Sem malabarismo retórico, a vitória de Evandro Leitão (PT) no 2° turno em Fortaleza se deu a uma frente ampla que englobou grupos políticos de centro-esquerda e, majoritariamente, de centro-direita.

Sendo assim, a vitória da campanha ‘neopetista‘ na capital com maior PIB do Nordeste foi muito mais pragmática do que ideológica e que por isso não se pode avaliar apenas a “vitória da esquerda“, como alguns analistas apressados – e diria até emocionados – estão dizendo por aí.

A campanha contou com um arco de aliança muito mais amplo que do seu adversário, André Fernandes. Figuras conhecidas da centro-direita local como o deputado federal Luiz Gastão (PSD) – que tem boa interlocução com setores produtivos – apoiaram abertamente a candidatura de Evandro, assim como também setores do União Brasil como o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, e deputados federais e estaduais.

Há um consenso nos bastidores de que a gestão de Evandro terá muito mais a agregar para esses grupos políticos do que seria numa eventual gestão bolsonarista. Tanto é que duas lideranças locais importantes do PL também apoiaram abertamente a campanha de Evandro, são eles: o prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, e o deputado federal Júnior Mano. Ambos foram expulsos do partido a pedido de Bolsonaro.

Um outro exemplo disso é a vice escolhida, a médica e deputada estadual Gabriella Aguiar (PSD), filha do ex-vice governador Domingos Filho, figura política da centro-direita com base política sólida no interior do estado. Durante a gestão de José Sarto, o PSD foi praticamente marginalizado e isso custou um preço político caríssimo para o prefeito derrotado no 1º turno.

Diga-se de passagem, a relação entre PDT e PSD começou a azedar depois da derrota de Roberto Cláudio em 1º turno para governador na eleição de 2022.

Naquele pleito, o vice na chapa de RC era o próprio Domingos Filho, que amargou um prejuízo político e financeiro com a candidatura forçada do ex-prefeito. Mas neste ano, o PSD teve um papel chave na eleição de Fortaleza e foi o partido que mais destinou recursos entre as siglas aliadas de Evandro: R$ 3,5 milhões.

Outro ponto importante que nos ajuda a compreender a vitória de Evandro nas urnas foi a mobilização que o senador Cid Gomes (PSB) liderou nos bastidores. Apesar da sua presença tímida na campanha, Cid mobilizou os 62 prefeitos eleitos pelo seu partido nas três semanas de campanha do 2º turno.

O congressista repetiu a mesma fórmula que elegeu Roberto Cláudio (PDT) e José Sarto (PDT) nas campanhas passadas, mostrando ao seu irmão Ciro Gomes, que apoiou André Fernandes (PL) na “surdina”, que a política do bastidor e de rua ainda são mais eficientes que a política feita pelo fígado e pelo rancor.

No PSB, foram eleitos prefeitos das mais diversas matizes e fez o partido crescer exponencialmente, mostrando que por muitas vezes, a sigla e pouco importa. Mas, sem duvida, o grande vitorioso foi o ministro Camilo Santana que foi chamado de “rei do voto” pelo presidente Lula. Santana chegou a tirar férias do MEC para se dedicar a campanha de Evandro e saiu com saldo positivo, cacifando sua liderança local e quem sabe, nacional.

Vamos aos números!

Evandro Leitão saiu vitorioso na eleição mais acirrada desde 1988 por uma margem de apenas 10.838 votos, o que pegou de surpresa até mesmo os analistas mais realistas.

Com um total de 716.133 votos, correspondendo a 50,38% dos votos válidos, Leitão obteve a maioria em 7 das 17 zonas eleitorais da cidade. Fernandes, que liderou em 10 zonas, angariou 705.295 votos, representando 49,62% do eleitorado.

Vale ressaltar que o candidato bolsonarista venceu praticamente em todas as zonas que abrangem bairros castigados pela violência e pelo domínio de facções criminosas, como é o caso das zonas 116 e 117 que cobrem os bairros que fazem parte do grande Bom Jardim.

André Fernandes também saiu vitorioso nas zonas 93 e 95 que cobrem bairros com índices elevados de pobreza como Jangurussu, Conjunto Palmeiras, Barroso, José Walter e Ancuri.

Esses números mostram, por exemplo, que apesar de ter saído derrotado a figura de André Fernandes saiu bem mais fortalecida para liderar a oposição no estado, deixando para trás figuras carimbadas como o próprio Capitão Wagner (UB), o maior derrotado destas eleições.

E foi na zona 113, que inclui bairros de classe média como Benfica e Parquelândia, que Leitão conquistou uma vantagem de 8.952 votos, o que praticamente contribuiu para sua vitória.

Esta zona em particular se mostrou como um reduto forte para o neopetista, onde ele registrou 55,22% dos votos contra 44,78% de Fernandes.

Já zonas como a 082 e 080 também se destacaram pelo bom desempenho de Leitão, com diferenças de 6.340 e 5.377 votos, respectivamente.

Por outro lado, Fernandes encontrou maior sucesso nas zonas onde as disputas foram mais equilibradas. A maior vantagem de Fernandes ocorreu na zona 112, com 52,09% dos votos.

Esta zona abrange áreas mistas (periféricas e de classe média alta) como Jardim das Oliveiras e Engenheiro Luciano Cavalcante. Além disso, na zona 3, que inclui bairros ricos do eleitorado alencarino como Aldeota e Praia de Iracema, Fernandes obteve 51,71% dos votos.

Sendo assim, a distribuição dos votos nas zonas eleitorais reflete um eleitorado ainda dividido, muito por conta de questões sensíveis como Segurança Pública – onde o governo Elmano (PT) é pessimamente avaliado – com Evandro Leitão apresentando uma força considerável em áreas específicas que compensaram as zonas com menor desempenho.